Blog do Pedro

Vitor Roque na seleção olímpica; a decisão é de quem?

Vitor Roque jogará pela seleção olímpica e não pela principal. Mas quem tomou esta decisão?

Por Pedro P. Lima
Publicado em 21/8/23 às 19:05h.



(Foto: Rafael Ribeiro / CBF)

Na última sexta-feira, 18, Fernando Diniz divulgou a sua primeira convocação a frente da seleção brasileira. Foi uma lista sem grandes novidades o que significa que houveram poucas posições que geraram "polêmica". Uma delas foi a posição de centroavante. Durante quase todo o último ciclo não teve ninguém que pareceu se firmar absolutamente na posição. Nomes como Gabigol, Pedro e Firmino foram utilizados, mas no final das contas Richarlison foi o escolhido para ser o camisa 9 do Brasil da Copa. E foi bem, teve boas atuações e marcou três gols.

Nessa sua primeira lista, Diniz convocou dois jogadores da posição; Richarlison e Matheus Cunha, e estas escolhas não pareceram agradar a maior parte da opinião popular, e há alguns motivos para isso. Cunha tem bastante rejeição por ainda não ter marcado nenhum gol com a seleção principal, apesar de ter tido boas atuações. O recorte é pequeno, são apenas oito jogos, além disso ele vem de uma temporada bem ruim, marcou apenas dois gols em 37 jogos por Atlético de Madrid e Wolverhampton. O mesmo vale para Richarlison, que apesar de ter bons números com a seleção, em sua primeira temporada na Premier League ele marcou apenas um gol. 

Mas talvez o principal motivo das escolhas de centroavante não terem agradado tenha sido o fato de termos centroavantes em ótima fase atuando bem próximo do torcedor brasileiro. Um deles é Tiquinho Soares. Ele não poderia estar na lista por estar lesionado, inclusive, segundo apuração de Lucas Musetti do UOL Esporte, Diniz tinha bastante interesse em convocar o artilheiro do Brasileirão. O outro nome é Vitor Roque.

Aos 18 anos de idade Vitor Roque já é um jogador pronto. É evidente que ainda há uma margem gigantesca para evolução, mas mesmo com pouca idade ele já está entre os principais atacantes do futebol brasileiro. Em 37 partidas na temporada ele marcou 17 gols além de oito assistências. É o vice artilheiro do campeonato brasileiro com oito gols marcados, e pensando em ciclo, pensando em quem pode estar entregando mais à seleção brasileira em 2026, ele está, sem dúvida, entre as melhores opções. Principalmente se considerarmos que ele será jogador do Barcelona a partir do ano que vem.

Ele vive fase melhor do que Richarlison e Matheus Cunha, portanto é difícil pensar em uma justificativa para ele não estar no plantel. Porém, no dia da convocação, algumas horas mais tarde, tivemos uma possível explicação. Ainda na sexta-feira, Ramon Menezes anunciou a convocação da seleção olímpica (sub 23) para um amistoso contra a seleção do Marrocos, na mesma data FIFA dos jogos das Eliminatórias. E Vitor Roque estava nessa lista. Não podemos afirmar que Fernando Diniz deixou de convocar o jogador para que ele defendesse a seleção olímpica, afinal ele não disse isso em momento algum. Mas a meu ver seria a justificativa mais plausível.

Eu discordo plenamente da decisão, acho que a prioridade deve ser sempre a seleção principal, e que as categorias de base devem ser usado para o desenvolvimento de jogadores com grande potencial, mas que ainda não estão prontos para atuar no mais alto nível. É o caso do Endrick e tem vários exemplos como este na lista do Ramon. Nomes como: Beraldo, Robert Renan, Andrey, João Gomes, entre outros. Não é o caso de Vitor Roque. Mas a questão principal é: de quem eu estou discordando?

A gente volta lá atrás para quando a CBF ainda buscava um treinador, antes de supostamente fechar com o Ancelotti. Ao final da última Copa, não foi só o Tite que deixou a seleção, mas praticamente toda sua equipe, incluindo Juninho Paulista que era o coordenador de seleções. No cargo, além de marcar jogos, ele também era responsável pelo planejamento de seleções. Este tipo decisão, se um jogador iria direto à seleção principal ou se passaria pela olímpica, no último ciclo seria tomada por ele. Mas aí não podemos nos esquecer que no momento a seleção brasileira não tem alguém nessa função, e a tendência é que continue assim.

O presidente Ednaldo Rodrigues entende que não há necessidade de termos um diretor de seleções na CBF. Por dois motivos, o presidente entende que ele é capaz de fazer as funções do cargo, e que o Carlo Ancelotti é um técnico tão consagrado que não precisa de alguém acima dele. Esta informação é de junho e foi apurada pelo André Rizek do Grupo Globo. Muito se discute sobre o treinador da seleção. Tanto Diniz quanto o próprio Ancelotti têm críticos e apoiadores, mas pouco se fala na ausência do diretor de seleções que é uma decisão péssima.


(Foto: Rodrigo Ferreira / CBF)

O presidente Ednaldo tem bastante experiência no futebol, mas na política e mais longe do gramado. Como ele terá condições de contestar qualquer decisão do Carlo Ancelotti, que é um dos maiores treinadores da história do futebol, ou até mesmo do Diniz? Existem diversas críticas que são feitas ao trabalho do Tite, afinal a partir do momento que se "perde a Copa", todo o trabalho é considerado ruim. Mas é inegável que durante o ciclo era claro que havia um processo em andamento. Se esse caso do Vitor Roque fosse no último ciclo, com certeza teríamos uma explicação a respeito. Poderíamos concordar com ela ou não, mas saberíamos o motivo.

Fernando Diniz não comentou sobre o jogador em nenhum momento durante sua coletiva. Ramon, por sua vez, respondeu a respeito de jogadores em idade olímpica que podem servir à seleção principal. Ele disse: "A gente já teve essa conversa. Conversei essa semana com o Eduardo (auxiliar técnico de Fernando Diniz). O Diniz tem o dia a dia no Fluminense, o meu dia a dia é aqui. Temos a maior liberdade. O carro-chefe é a principal. Aqui, o nosso trabalho é oxigenar a seleção principal. Eu, logo que cheguei, disse que era uma meta nossa estar oxigenando a seleção principal."

É claro que o carro-chefe é a seleção principal, ninguém questiona isso, mas a questão é quem decidiu que a melhor opção era ter o centroavante do Athletico Paranaense na equipe sub 23? Foi o Diniz? Foi o Ramon? Foi o presidente Ednaldo? E esta decisão foi tomada pensando no que era melhor para o jogador ou para seleção brasileira? O Diniz comentou durante sua coletiva que ele é amigo e mantêm contato com Ramon Menezes frequentemente, já que eles jogaram juntos pelo Fluminense. Mas em algum momento, tem grandes chances de que os dois queiram convocar o mesmo jogador. Neste caso, o que acontece? A vontade do Fernando Diniz vai prevalecer independemente da situação? Mas e se ter o atleta atuando nas categorias de base acabar sendo melhor para todo mundo? Vai ter alguém para mediar essa discussão? E após a chegada do Ancelotti? Eu acredito que ele não tenha nenhum tipo de relação com Ramon Menezes. Quando o italiano chegar ele vai tomar todas as decisões e a CBF vai aceitar passivamente? Não teremos ninguém pra fazer sequer um contraponto?

No final das contas, manter Vitor Roque na equipe sub 23 pode ter sido a melhor decisão. Existem exemplos de jogadores extremamente talentosos que se beneficiaram por uma boa passagem na seleção olímpica. Como o Bruno Guimarães, por exemplo. Ele foi um jogador importantíssimo para a medalha de ouro conquistada em Tóquio, e a partir daí virou peça fundamental na equipe do Tite, chegando até a disputar a última Copa. Neste ciclo, ele tem boas chances de se tornar titular. E isso deu certo porque havia um planejamento por trás da decisão. Agora não há. Pode dar certo, mas quando as decisões são planejadas, as chances de sucesso são maiores.

Este foi um texto com diversas perguntas e pouquíssimas respostas, e o problema é justamente esse. A falta de clareza nas decisões e transparência na gestão da CBF desde a última Copa. Inevitavelmente o torcedor brasileiro se importa com o resultado e não com o trabalho. A seleção fez tudo que deveria ter feito em seis anos para ganhar a Copa, e o resultado não veio porque isso é futebol. Ganhar o mundial, não depende só de nós. O que não podemos é achar que tudo tem que ser feito diferente porque o resultado não veio. Temos bons nomes para ficar à beira do campo com a seleção brasileira. Diniz é um excelente treinador e Ancelotti dispensa comentários. Mas uma equipe qualificada e uma boa gestão são fundamentais para que eles consigam desempenhar o melhor trabalho possível a frente da seleção brasileira.

Pedro P. Lima

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