A primeira convocação de Dorival

(Foto: Staff Images / CBF)

Na próxima sexta-feira, dia 1 de março, Dorival Jr. fará a sua primeira convocação como técnico da seleção brasileira. Ele foi anunciado no cargo no meio de janeiro, e neste mês e meio a frente da seleção, ele já deu alguns ótimos sinais ao torcedor brasileiro, e um muito preocupante.

O principal deles é o fato de que nós temos, novamente, um trabalho diário sendo desenvolvido na CBF. Algo que começou na “Era Tite”, mas que havia se perdido após a Copa. Mais uma vez, temos todo um departamento de futebol cumprindo expediente na entidade e tratando sobre as questões referentes à seleção brasileira. 

Podemos dizer que jogadores voltaram a ser observados minuciosamente, e a comissão técnica começou a manter contato com os atletas que estão no radar. Inclusive, agora em fevereiro o treinador viajou à Europa, junto a sua comissão para assistir partidas das principais ligas e desta forma embasar a sua convocação, além de também ter assistido a alguns jogos aqui do futebol brasileiro. 

O técnico da seleção brasileira precisa observar partidas para definir a sua convocação, algo que não foi feito durante a “Era Diniz” devido ao formato da contratação, em que ele tinha que comandar o Fluminense e a seleção, portanto não havia tempo.

Agora, se todos esses indícios são animadores, em sua apresentação, Dorival disse algo bem preocupante. Ele disse para jogadores que atuam no Brasil se prepararem, pois ele pretende usá-los com frequência.

A realidade é que o futebol brasileiro está bem distante das principais ligas do futebol europeu. O nosso nível aumentou bastante nos últimos anos, mas ainda assim existe um abismo. Sempre há um clamor popular para que atletas que atuam por aqui sejam aproveitados na seleção. Mas por mais difícil que seja de entender, muitas vezes um nome que é bem pouco conhecido por aqui e joga por um time de menor expressão na Europa, pode render mais do que alguém que se destaca em território nacional. Existem exceções, mas em via de regra, é assim que funciona.

Se Dorival for depender de jogadores que jogam aqui durante sua passagem pela seleção, teremos problemas. Dito isso, pensando na primeira lista, para os amistosos contra Inglaterra e Espanha, eu montei a minha lista de selecionados. Muito provavelmente a lista do Dorival vai ser melhor do que a minha, assim eu espero, e é por isso que ele está na sede da CBF convocando a equipe e eu no computador fazendo este texto. Então vamos aos nomes:

Goleiros:

(Foto: José Tramontin / CAP)

• Ederson (Manchester City)

• Bento (Athletico Paranaense)

• Weverton (Palmeiras)

Estamos bem servidos de goleiro, e não é de hoje. Por algum motivo, uma boa parte dos torcedores da seleção querem criar crise em uma das posições que o Brasil tem mais opções. Afinal, não é exagero nenhum dizer que em uma lista com os cinco melhores goleiros do mundo, dois são brasileiros. Lógico que isso é discutível e totalmente subjetivo. Mas não há discussão de que Alisson e Ederson estão entre os principais goleiros do futebol.

Por algum motivo eles são questionados por aqui. Provavelmente porque durante boa parte da passagem deles pela seleção, o Brasil tinha um sistema defensivo extremamente sólido, portanto eles eram bem pouco exigidos. O fato é que ambos são incontestáveis na equipe, Alisson só fica fora desta lista por lesão.

Apesar do que foi dito anteriormente, os outros dois goleiros atuam no Brasil, entretanto, duas ponderações podem ser feitas. A primeira é que a posição de goleiro é diferente, pois o jogador atua praticamente sozinho embaixo das traves, então a diferença entre Brasil e Europa acaba sendo menor. E também pela falta de grandes nomes atuando nas principais ligas.

Bento é destaque no Athletico já há bastante tempo, e vem merecendo atuar pela seleção. Ele já foi convocado por Fernando Diniz no ano passado, mas precisou ser cortado por lesão. Enquanto Weverton, apesar de não viver uma grande fase, segue sendo um dos principais jogadores da posição no Brasil, e tem experiência e uma vivência de seleção que pode contribuir com o grupo.

Laterais:

(Foto: Reprodução / Instagram)

• Danilo (Juventus)

• Yan Couto (Girona)

• Alex Sandro (Juventus)

• Samuel Lino (Atlético de Madrid)

As laterais continuam sendo o setor mais carente do Brasil. Isso faz com que Alex Sandro, que não vive seu melhor momento, possa ser um nome importante para a equipe. E que dois jogadores jovens e com pouca rodagem mereçam oportunidades.

Danilo é um pilar. Apesar de ser criticado por alguns, é um defensor completo, forte na marcação, mas que tem bom passe e é fundamental na construção. Sofre algum preconceito por não ser um lateral “ofensivo” durante a maior parte da sua carreira na Europa, mas isso não significa que ele não colabore quando o time tem a bola. É peça fundamental da Juventus, além de ser o capitão do time, apesar de atuar como zagueiro pela direita em uma linha de três, o que tecnicamente não é muito diferente da função que ele fazia enquanto Tite era o técnico.

Seu companheiro de time, Alex Sandro, por outro lado, não vive grande fase, não é titular absoluto, mas é utilizado constantemente e rende o esperado. Ainda assim, pela sua experiência e tempo de seleção, pode ser um nome fundamental nesse período de transição, ainda mais tendo dois laterais tão jovens na lista.

Yan Couto faz uma temporada muito boa pelo Girona, apesar de ter feito uma partida bem ruim no confronto direto com o Real Madrid. Sabemos que maus desempenhos em jogos deste tamanho ficam marcados, e podem fazer com que alguns tenham uma rejeição sobre ele. Mas ele precisa estar na lista, principalmente pelo o que ele já mostrou na seleção. Quando Danilo se lesionou, foi ele que assumiu a vaga de titular e jogou bem, com muita personalidade.

Samuel Lino é outro nome que vem se destacando no futebol espanhol. O único porém, é que ele faz a função de ala, e é ponta de origem. Apesar de não jogar exatamente nesta função, ele está no radar de Dorival para a lateral esquerda e é um teste válido para a posição.

Zagueiros:

(Foto: Kai Pfaffenbach / Reuters)

• Thiago Silva (Chelsea)

• Marquinhos (PSG)

• Gabriel Magalhães (Arsenal)

• Murillo (Nottingham Forest)

A seleção brasileira precisa de Thiago Silva. Ele passou por um processo curioso, porque foi como se tivessem aposentado ele da seleção, sem nenhum motivo para tal, o próprio Thiago declarou em um entrevista que ele está sempre a disposição para ser convocado. A única justificativa plausível para tirarem ele do ciclo, é que pela idade mais avançada, ele não deve chegar à próxima Copa.

Mas vamos aos fatos: a seleção brasileira vem sofrendo muito defensivamente e com 39 anos, Thiago Silva ainda é o melhor zagueiro brasileiro em atividade no mundo. Realmente é difícil acreditar que ele ainda estará em alto nível daqui dois anos e meio, mas os jogos contra Inglaterra e Espanha são daqui três semanas, e a presença dele por si só eleva a defesa a outro patamar. Ele está se recuperando de uma lesão, mas mesmo que não esteja 100% para os jogos, a presença dele é importante, principalmente se tiverem zagueiros mais jovens na lista.

Este é o caso de Murillo, que faz uma excelente temporada pelo Nottingham Forest. Esta última vaga poderia ser tanto ele quanto Beraldo, do PSG. Murillo sai na frente por dois motivos. Primeiro, pois apesar de estar se firmando como titular no Paris, Beraldo vem jogando mais como lateral esquerdo, posição em que ele jogou por muito tempo nas categorias de base. E também porque Murillo no geral parece mais pronto, e vem atuando em um nível mais alto em uma liga mais difícil.

Meio-campistas

(Foto: Lucas Figueiredo/CBF)

• Casemiro (Manchester United)

• André (Fluminense)

• Douglas Luiz (Aston Villa)

• Bruno Guimarães (Newcastle)

• Lucas Paquetá (West Ham)

A melhor notícia para a seleção brasileira nesta data FIFA é o retorno de Lucas Paquetá, que está praticamente confirmado. Afinal, Dorival já se reuniu com o jogador, e a decisão de convocá-lo está nas mãos do treinador. E a partir do momento que Paquetá está entre os selecionados, ele não pode ficar de fora. Ele não vinha sendo chamado por uma investigação da FA sobre uma suposta violação das regras de aposta esportiva, entretanto, a CBF e a comissão técnica decidiram que não há mais motivo para ele não ficar de fora.

Paquetá é outro jogador que, inexplicavelmente, é bastante criticado pelo torcedor brasileiro. Ele tem pouquíssimas más atuações, e no final da passagem do Tite pela seleção, foi o nome mais consistente do meio-campo brasileiro. Pela imposição física, agressividade na marcação e o dinamismo que ele traz à equipe.

Quanto aos outros nomes, Casemiro é indispensável. Independente da fase ou da forma, é um dos melhores volantes da seleção, vinha sendo capitão da equipe e não há condição de deixá-lo de fora. Douglas Luiz é um dos melhores jogadores da Premier League na temporada, pode jogar de primeiro ou segundo volante e participa muito bem ofensivamente. Na atual edição do Campeonato Inglês, participou de treze gols em 25 jogos.

André já é uma realidade no futebol brasileiro, e quando atuou pela seleção foi muito bem. E Bruno Guimarães, hoje, é um dos principais da posição, e também não pode ficar de fora.

Atacantes

(Foto: Violeta Santos Moura / Reuters)

• Vini Jr. (Real Madrid)

• Gabriel Martinelli (Arsenal)

• Gabriel Jesus (Arsenal)

• Vitor Roque (Barcelona)

• Rodrygo (Real Madrid)

• Raphinha (Barcelona)

• Endrick (Palmeiras)

Desde a última Copa, é evidente que temos muitas boas opções para o ataque, e este é um dos fatores que explica os sete nomes. Foram cinco meio-campistas (um a menos que o habitual) e um atacante a mais. A ideia é, fora os volantes, o nome para ser o meia-atacante, o jogador mais avançado do setor, é o Paquetá. Em sua ausência, a segunda melhor opção seria Rodrygo, que deve ser titular jogando pela direita, mas que pode fazer esta função mais centralizado.

Sendo assim, pela ponta esquerda, Vini Jr. e Martinelli são indiscutíveis, por isso Savinho, do Girona, acaba ficando sem espaço. Pela direita, Rodrygo deve ser o titular, Raphinha segue sendo uma boa opção, e até Gabriel Jesus joga muito bem pelo setor. E como referência no ataque, Jesus deve ser o titular, e as duas grandes promessas do Brasil na posição vão integrar o elenco: Vitor Roque e Endrick.

Os dois podem e merecem uma convocação. O Vitor Roque é, hoje, um jogador mais pronto. Não só por já estar em atividade no futebol europeu, mas no Athletico ele já vinha sendo o principal jogador da equipe há um bom tempo. Hoje, no Barcelona, ele já briga por posição e é utilizado com frequência. Enquanto Endrick também vem sendo muito importante para o Palmeiras e foi decisivo no título do Campeonato Brasileiro do ano passado. Vale a pena levá-lo para seleção, pois dificilmente este não será o lugar dele nos próximos anos.

Adendo: Nesta primeira lista, Dorival irá chamar 26 jogadores, e não 23 como de costume, sendo assim, os três nomes para completar a lista seriam:

• Beraldo (PSG)

• Savinho (Girona)

• Richarlison (Tottenham)