(Foto: Manan Vatsyayana/AFP)
Recentemente, Neymar confirmou sua intenção de disputar a próxima Copa do Mundo com a seleção. Esta será a sua quarta participação e muito provavelmente a última. Não é difícil ouvir comentários de que o camisa 10 ainda não teve uma boa atuação em Copas do Mundo. O que não é verdade.
Em treze partidas no mundial, Neymar marcou oito gols e deu três assistências. Ele entrega praticamente uma participação em gol por jogo, uma média de 0,8. Somando todas as 124 partidas dele na seleção, a média de participação em gol por jogo é de 1,1, com 77 gols (mesmo número de Pelé), e 57 assistências. Ou seja, a média dele no torneio mais importante do futebol de seleções é bem parecida com a de outras competições, o que é impressionante se levarmos em conta o nível de enfrentamento.
Mas apesar de ter tido boas atuações, a relação dele com a Copa do Mundo é muito conturbada. Em 2014 ele tem a lesão na coluna que o tira do resto do Torneio. Em 2018 ele tinha acabado de se recuperar de uma fratura no quinto metatarso do pé direito e aparentava estar longe de sua melhor condição física, e na última Copa ele torceu o tornozelo no jogo de estreia, o que o tirou de duas partidas, e também não parecia estar 100% recuperado quando voltou a campo.
A ideia de que o Neymar vai mal no mundial, vem muito da responsabilidade que foi jogada em cima dele. Ele disputa sua primeira Copa em 2014, aos 22 anos de idade, tendo a pressão de ser o jogador que ia levar a seleção ao título. É fato que todo extraclasse tem que lidar com pressão, e sendo justo, ele sempre lidou bem com isso, mas ele é o único jogador que teve que enfrentar toda essa responsabilidade praticamente sozinho.
Todos os jogadores desse nível chegaram na seleção tendo alguém pra dividir essa cobrança. Ronaldo fez sua primeira Copa como titular em 98, tendo Bebeto como companheiro de ataque, que tinha sido Campeão 4 anos antes. E ele continuou na seleção em 2002, quando Ronaldinho Gaúcho se tornou titular, e ambos estavam em 2006, para dividir a responsabilidade com Kaká e Adriano. Mesmo se voltarmos quase 70 anos no tempo, quando Pelé, de 17 anos, e Garrincha vão pra Copa de 58, lá estava Didi, como liderança técnica do time, e que foi eleito melhor jogador do Mundial.
Neymar não teve isso. Robinho, Kaká, Adriano e Ronaldinho Gaúcho são exemplos de jogadores de gerações anteriores que ainda tinham idade para disputar mais um mundial, mas não tiveram a longevidade necessária, e não estavam em condições físicas para ser convocados, seja por problemas de lesão ou questões extracampo. Além disso, outros jogadores da mesma geração do Neymar não conseguiram chegar ao nível que se esperava deles e sequer disputaram a Copa. É o caso de Paulo Henrique Ganso, Lucas Moura e Alexandre Pato.
Nunca pareceu que o craque brasileiro tinha um companheiro à sua altura na seleção. Mas este não será o caso neste ciclo. No ano passado, Vinícius Jr. foi eleito o oitavo melhor jogador da temporada no prêmio Ballon d’Or (a Bola de Ouro), sendo desta forma o único jogador de linha brasileiro desde 2013 a aparecer no Top 10 da premiação, sem contar Neymar.
Hoje, aos 23 anos, Vini já é uma realidade no futebol mundial. Por mais que não tenha o mesmo refino técnico e a mesma versatilidade do camisa 10 da seleção, ele tem velocidade e explosão muito acima da média, além do poder do drible e a capacidade de armação jogando pela ponta esquerda. Não é possível prever o dia de amanhã, mas se olharmos para 2030, 2034 e daí em diante, Vinícius Jr. tem tudo pra ser o principal nome do futebol brasileiro.
Por isso, neste ciclo a tocha precisa ser passada. Tocha essa que simplesmente caiu nas mãos de Neymar quando ele chegou à seleção. Não é exagero pensar que durante esse ciclo, a liderança técnica e referência do time continuará a mesma, mas teremos alguém que dividirá com ele a cobrança, a pressão, as críticas e esperançosamente, a glória.
Vini chega a seleção em um contexto bem mais favorável, principalmente por não chegar sozinho, tendo Rodrygo, Paquetá, Antony, entre outros ao seu lado, mas também por ter alguém para mostrar o caminho e ajudá-lo a colocar seu nome na história da seleção brasileira.