Blog do Pedro

A peça central da seleção brasileira

Além de capitão, Casemiro tem tudo para ser o centro da seleção no próximo ciclo

Por Pedro P. Lima
Publicado em 10/9/23 às 0:22h. | Última atualização em 10/9/23 às 0:22



(Foto: Mark Metcalfe / FIFA)

Com a vitória contra a Bolívia no primeiro jogo das Eliminatórias, e a estreia de Fernando Diniz no comando, podemos dizer que começamos oficialmente um novo ciclo, rumo à América do Norte em 2026. E em todo começo de ciclo temos um clamor popular por renovação. Isso acontece porque na nossa cultura futebolística ninguém se importa com o trabalho. A única coisa que é levada em consideração são os resultados. A prova disso é que segundo estudo Centro Internacional de Estudos Esportivos do Observatório do Futebol, um técnico da série A do Campeonato Brasileiro fica, em média, cinco meses no cargo. Este tempo não é suficiente para se desenvolver um trabalho, muito menos o avaliar.

Na seleção brasileira, a percepção não é diferente. Na realidade, ainda tem um agravante, já que o que importa não são os “resultados” no plural e sim um resultado: o da Copa do Mundo. Não se é levado em consideração o que foi feito ao longo do ciclo, se o Brasil “perder a Copa” (e este conceito é única e exclusivamente brasileiro) o trabalho será considerado um fracasso. Por isso, depois do mundial sempre se pede por mudanças, tanto no estilo de jogo quanto em uma reformulação de elenco. Mas no meio disso, existem algumas peças que são indiscutíveis, não só pela bola jogada, mas também pela experiência e o fato de terem se tornado lideranças no elenco. Nomes como Alisson, Marquinhos, Neymar e quem deve ser a peça central da equipe no próximo ciclo: Casemiro.

É evidente que o jogador mais talentoso da seleção é o Neymar, e ele deve permanecer como a referência técnica do time. Mas nos últimos anos, desde a sua ida ao PSG, o camisa 10 tem sofrido com constantes lesões e acabou desfalcando a seleção em mais de uma ocasião. Podemos dizer que, desde o 7 a 1, quando houve um grande recomeço, Casemiro foi o jogador mais constante do Brasil, não só por presença, mas por regularidade e nível de atuação. Talvez ele divida esse posto com Thiago Silva. Mas após quatro Copas do Mundo, a história do zagueiro no futebol de seleções parece ter acabado. E o bastão foi passado, junto com a faixa de capitão.

Desde o mundial, em todas as partidas em que o volante esteve em campo com a seleção, ele vestiu a braçadeira, o que parece uma escolha lógica. Na era Tite, havia alguns jogadores que se alternavam como capitães até encerrar com Thiago Silva, e Casemiro era um deles. É evidente que a escolha de um líder é muito particular de comissão técnica e elenco. É preciso acompanhar o dia-a-dia da equipe para entender a decisão, mas olhando de fora, a escolha do camisa 5 pareceu um movimento natural.

O ponto da discussão é o quanto Casemiro é importante para o funcionamento da seleção brasileira. Como já foi dito, Neymar desfalcou o Brasil mais de uma vez, mas no geral, o time conseguiu se virar bem, a narrativa de que a equipe joga melhor sem ele é completamente infundada, mas o desempenho não caiu muito, tendo chegado até mesmo ao título da Copa América de 2019 com o craque lesionado. Todas as vezes que o volante da seleção não pôde atuar, sua ausência foi muito sentida. Na Copa de 2018, no jogo da eliminação contra a Bélgica, “Casão” cumpria suspensão automática após levar dois cartões amarelos ao longo da competição, e a sua baixa foi determinante para o resultado. Fernandinho é um jogador que recebe muitas críticas no Brasil, o que é uma injustiça em partes, afinal ele é um grande jogador. Mas é fato que ele não conseguiu desempenhar o seu melhor futebol com a amarelinha, muito menos no mesmo nível do titular da posição.

Já no último mundial, a partida de quartas-de-final contra a Croácia infelizmente foi uma das raríssimas partidas ruins de Casemiro pela seleção brasileira. Ele teve muitas dificuldades de acompanhar Luka Modric, que foi seu companheiro no Real Madrid durante anos, e destoou do resto da equipe que teve uma atuação predominantemente boa. Isso tudo mostra o quanto é difícil pensar no Brasil sem o seu camisa 5 e agora capitão. Em 2026, na próxima Copa, ele terá 34 anos, o que está longe de ser considerado uma idade avançada no futebol de hoje, e é inimaginável um cenário em que ele não seja peça fundamental da equipe. Principalmente partindo do pressuposto que o técnico da seleção será Carlo Ancelotti.


(Foto: Reprodução / LaLiga)

Tem muita gente que duvida da chegada do italiano, o que é plenamente válido já que não há nada assinado, porém, a partir do momento em que o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirma que ele será o técnico do ciclo, e assume a seleção para a Copa América do ano que vem, devemos trabalhar com esta informação. Sob o comando de Ancelotti, Casemiro foi por duas vezes campeão da Champions League, na primeira ele tinha acabado de chegar no clube de Madrid e ainda brigava por espaço, mas na mais recente ele já era titular e peça fundamental do elenco.

Com a concretização de Carletto na seleção, podemos esperar que jogadores como Vini Jr. e Rodrygo joguem bem à vontade, já que ambos evoluíram muito sob a tutela do treinador, mas também é muito provável que ele tenha no capitão da seleção seu homem de confiança.

Não há dúvidas de que Casemiro será titular numa eventual seleção de Ancelotti, mas a realidade no momento é Fernando Diniz. O atual técnico da seleção brasileira tem um estilo bem próprio, que ele mesmo chamou de “jogo aposicional”, que vai na contramão do que fazem a maioria dos técnicos europeus e do que Tite implantou muito bem na seleção em seis anos de trabalho. Em um jogo posicional, os jogadores têm de guardar uma posição específica e progredir em movimentos coordenados, para desta forma criarem espaços na defesa adversária e poderem avançar em direção ao gol. Enquanto o “Dinizismo” tem como característica dar muita liberdade de movimentação para os jogadores, sempre se aglomerando próximo a região da bola e apostando em toques curtos e tabelas para encontrar espaço na defesa do oponente.

A questão é que o camisa 5 da seleção é um jogador muito bem adaptado ao jogo posicional. Ele tem a habilidade de se colocar entre a defesa e o meio-campo e atuar naquele setor de uma maneira que quase ninguém no mundo consegue. Poucos conseguem dar a segurança, a sustentação e a qualidade no passe que Casemiro dá às equipes em que atua. Agora, num esquema como o de Diniz, em que praticamente todos os jogadores circulam por todo o campo, havia uma preocupação de como o volante se adaptaria a isso. Chegou até a haver um questionamento se ele não acabaria tendo que disputar posição com volantes de mais mobilidade, como o André, que trabalha com o Fernando Diniz no Fluminense, por exemplo.

Aparentemente, isso não será problema. E, sinceramente, era até previsível que Diniz encontraria uma maneira de acomodá-lo no time titular. O técnico da seleção tem uma vasta coleção de críticos adquiridos ao longo de sua carreira, mas algo que é unânime, até para quem o odeia, é que em todos os lugares que ele passou, ele soube trabalhar com as peças que tinha. Soube criar mecanismos para encaixar quem ele já tinha no elenco, muitas vezes recuperando jogadores que vinham sendo pouco aproveitados.


(Foto: Felipe Duest / Gazeta Press)

Um exemplo é Paulo Henrique Ganso. O começo de sua passagem pelo Fluminense foi bem frustrante. Tendo pouco tempo entre os titulares, e ficando muitas vezes encostado. É fato que ele já tinha começado a se recuperar com Abel Braga, mas foi no trabalho do Diniz que ele voltou a ser considerado um dos melhores meias do Brasil. Ele foi capaz de encaixá-lo em seu esquema de jogo, de modo que potencializasse a genialidade do atleta (isso não é uma hipérbole). Em todos os seus trabalhos ele conseguiu aproveitar jogadores desacreditados, sem comprometer suas ideias de jogo. Seria muita ingenuidade da nossa parte achar que ele não conseguiria trabalhar com o melhor cabeça de área da sua geração.

O Casão não teve uma atuação exuberante contra a Bolívia mas a partida já passou uma mensagem importante. Ficou bem claro como ele pretende utilizar o jogador, e como isso vai influenciar o desenho tático de todo o resto da seleção. Quando o Brasil tinha a bola, o volante entrava no meio dos dois zagueiros para fazer uma saída de três. Como Renan Lodi jogou espetado lá na frente, quase como um ponta, Gabriel Magalhães caía pela esquerda muitas vezes fazendo quase a função de um lateral. Sendo assim, Marquinhos e Casemiro eram os dois jogadores mais recuados, muitas vezes sendo os únicos atrás da linha da bola.

Neste cenário, ele não atuou numa função muito diferente do que está acostumado, mas como a Bolívia jogou muito retrancada, muitas vezes não era necessário ter dois jogadores na contenção. Nestes momentos, o capitão da seleção se lançava ao ataque junto ao resto do time. Tendo pisado na área adversária algumas vezes. Isso é possível de se observar no mapa de calor atleta na partida.


Mapa de Calor: Casemiro x Bolívia |Crédito: Sofascore

Como já dito, a atuação do jogador não foi nada demais. Foi uma partida segura, como lhe é de costume, mas errou alguns passes e no geral não teve uma atuação muito inspirada. Mas a questão principal é que ficou evidente que a montagem da seleção brasileira passa por seu camisa 5. Independente de treinador e de quem estará no comando da seleção brasileira em 2026, o fato é que hoje Casemiro é indispensável para a equipe, e a tendência é de que isso não mude nos próximos três anos.

Pedro P. Lima

Vai Ter Copa | 2022 - 2023

Desenvolvimento: Marcos Amaral